segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Homenagem a Simba (Até que o vento nos separe)http://1.bp.blogspot.com/_b3LR4luwK_M/TUcuRnWhInI/AAAAAAAAAEw/6-f9YuBnCGQ/s200/eu%2Be%2Bsimba2.jpg




''Deveria ser até castigado por escrever o que ninguém sabe sobre mim... Mas eu tive que o fazer. Simba, amigo, esta é a tua Homenagem.''

Mais uma vez vagueio, à deriva no frio quarto. A vida, nestes últimos dias correu-me pelos olhos. Chorei, sorri, diverti-me, fui quem eu sou, por mais dúvidas que eu tivesse.
Com ''Os Maias'', ''Crepúsculo'' e ''A Odisseia'' pousados na minha cama fecho os olhos à ignorância.
Considero-me do povo por viver em casa instalada no meio do campo, entre duas grandes cidades da margem sul do Tejo.
Atrás de mim, permanece o meu santuário. Esse santuário não é um altar de culto a qualquer deus ou deuses, santos ou santas, mas sim ao que já foi meu. Ao que será sempre meu, o meu cão Simba.
Bastante banal e talvez infantil fazer uma homenagem a um factor da minha existência. Porém a minha vida nunca foi fácil...
Arranco da minha alma, uma má recordação e uma boa talvez.
Lembro-me que no dia em que o Simba chegou à minha casa, tinha eu agendado a minha morte, no abandono da manhã. Três desgraças fizeram-me tomar tal decisão, errada e louca.
Fui acordado, nesse mesmo dia pelo telefonema da minha mãe que avisava que a minha tia (irmã da minha avó) estaria prestes a chegar para entregar umas coisas.
Não sei porquê, mas surgiu-me, primariamente que essas ''coisas'' eram peças de louça. Amansei a ideia de suicídio e planeei-o para depois da chegada da minha tia. Porém tudo mudou.
Um bater pesado na porta de metal fez-me caminhar a passos apressados até à porta. Quando a abri fiquei estupefacto. E quem não ficaria, ao ver um cão de cerca de 3 meses a ser entregue ao nosso colo?
Agarrei-o e quando a minha tia se foi após uns 15 minutos eu fiquei a olhar atentamente para a criatura. A ideia do suicídio e das 3 desgraças foi varrida como pó. Julguei que aquele seria o cão que me acompanharia até à sua morte, algo que nunca aconteceu pela minha vida ''pesada''.
Afastando as ironias do destino, aproveitei aquela vinda de um novo membro da família e esqueci tudo e comecei uma nova história.
Ao fim de duas semanas, fui para o Algarve com a minha mãe e com o meu irmão, secretamente. Isto por outros motivos... O Simba ficou alojado na casa de uma amiga da minha mãe, que por coincidência era avó de uma colega de turma.
No Algarve vivi aquelas duas semanas com o expoente máximo de liberdade comparado com as minhas vivências passadas.
Foi lá que surgiu o poema ''Na Morte de Um Novo Amor'' onde cantava os versos enquanto os escrevia e desde então canto sempre esse poema assim como o ''Lume'', ''Quadro Teixeira'', ''Carta'', ''Arrependimento''e outros.
O Lume foi o auge anterior quando também o cantei e escrevi, mas isso é outra história.
Acalentado pelo desejo, saudade e esperança de voltar, escrevia e chorava todas as noites, sentado numa cadeira na varanda do hotel.
Quando voltei a felicidade voltou. Reencontrei Simba. Foram as melhores semanas do ano, porém a primeira desgraça voltara a bater à porta, o Amor.
Quando regressei julguei ser amado e considero-me enganado pela tentação. E como eu escrevi, ''Esqueci-me de quem me mais apoiou. Amei quem de mim se aproveitou''
Nas semanas seguintes o Simba ficou preso no meu quarto onde ocorreram, imprevistos e em breve toda essa área foi tornada numa prisão para ele. E eu nada podia fazer. Horários rigorosos impediram a minha força e normalidade em cuidar de tudo.
Mas, numa semana houve uma discussão, digamos, amorosa. Sem conseguir chorar caminhei pelos quartos procurando o suicídio. Antes de o fazer, o Simba pressentiu algo nas paredes do meu quarto e ladrou, cada vez mais alto.
Com medo de ser descoberto pela minha mãe, cortei a minha mão sem remorsos... Voltei ao quarto onde o meu cão estava e abracei-o, com todas as forças.
Os dias passaram e por ironia do destino o Simba foi para onde o novo capítulo da minha vida me tinha levado. Algures no Algarve ele está.
Foi levado pela falta de condições que eu lhe propus com o mundo exterior. Dei-o não por não ter condições de eu viver, mas sim por não ter condições de o ver sofrer. Adiante...
Ele partiu e chorei, baptizei o fado Abandono, fora posteriormente chamado de fado de Peniche para fado de Simba.
Levaram-no com a promessa de enviarem novidades e fotografias tão desejadas.
Voltei a viver na escuridão da poesia mórbida que eu estive destinado. Agora, que a vida me passa pelos olhos, retiro a banalidade do acaso e reponho-a para vós, que certamente não terão vagar para lerem tal lamento infantil.
Pelo menos, disse-lhe obrigado na hora em que ele foi levado. Mas, e notem que existe sempre um mas, voltarei a encontra-lo. Voltarei a abraça-lo pelo que de mim salvou. Salvou-me e uma morte indigna duas vezes.
Quando o dia voltar, voltarás também. Nunca recebi fotos daquele tão adorável pastor-alemão. Nunca tive remorsos pelo que me obrigaram a fazer. Nunca! Apenas digo que estou feliz enquanto ele assim o estiver. Ao menos ouves o vento, ao menos ouves o mar...

Coração Sonhador

''Sabem quando nos sentimos desolados? Quando julgamos que estamos sós no mundo quando na realidade temos uma multidão em nosso redor? Sabem aquela sensação de que falta algo? A mim falta-me tudo... Algures eu tive um sonho, mas parece ter-se perdido... Algures alguém me disse para tentar. E eu tentei! Escrevi e tentei mostrar mas... ninguém me deixou! Puseram-me condições e eu parti para outra! Mas parece que este novo solo em que eu pisei se desfez...''

Pedi ao céu uma estrela
Na qual pudesse brilhar
Nunca soube que ia perdê-la
Nem que a pudesse ganhar
Algures no céu jaz ela

Que coração de desejos
Minha vida possuí
Sou a desgraça dos beijos
Mas amado nunca fui
Amei todos com os meus desejos

O palpitar pela vida
O palpitar do temer
Vivo eu em contrapartida
Com medo dos meus sonhos perder
Memória minha falecida

Julguei esquecer aos meus actos
Causando em mim mais dor
Vivo apenas em fracassos
Viver talvez sem amor
É o meu maior fracasso

Quando os meus sonhos serão
Realizados por fim?
Dizem-me sempre que não
Será lançam ódio a mim?
Por ter enorme coração

Coração Sonhador
Coração de desespero
Vives tu com largo calor
Mas és fraco, efémero
Coração tão sonhador

Espero agora pela morte
Por a sua grande vinda
Ou então então espero pela sorte
Pois sofro o mesmo ainda
Morro por ti, coração forte

Sair da Sombra

''Há frases que servem de inspiração. Quando me disseram: ''Vamos fazer-te sair dessa sombra'', lembrei-me de que a minha vida foi apenas uma a mais...''


Quem seria a nossa estrela
No céu nocturno ao luar?
Quem terá forma singela
No véu perdido do mar

Alguém que sabe o teu nome
Mas que não o quer chamar
Alguém que pintou meu rosto
Sem para ele nunca olhar

Chamarei o meu destino
Ás rosas perdidas, sombrias
Vivo a vida em desatino
Criando harmonias

Da tristeza um abraço
Tende minha alma cercar
Longe do comum embaraço
Na tentativa de tentar

Perder não é o todo
Mas sim a peça letal
Enterrado no lodo
No rio que me é fatal

A beleza está por dentro
Vejo-a sem a ter que explorar
Serei belo noutro tempo
Belo enquanto não amar

Vou sair daquela sombra
Que é minha vida coberta
De tantas frases de sobra
Esta a razão me desperta

Serei palavra distante
Sem razão nem sorte
É o meu destino constante
Confiar sempre na morte