terça-feira, 31 de maio de 2011

Desabafo do dia de ontem

Quem me dera que este fosse o meu último momento para descobrir que não seria chorado por ninguém. Nasci sob a forma de um ser imperfeito que sofre diariamente pelos outros. Luto por mim mas e os outros? Os outros impõe que eu morra por eles! É a minha obrigação segundo eles! Colocam-me sempre numa posição inferior aquela que eu estou e depois desculpam-se que é para disfarçar os problemas deles... Problemas! São alimentados pela família, têm a liberdade quase nas suas mãos, não têm problemas de esconder os seus amores... E eu? Eu vagueio entre todos, sou o Atlas deles! Quem me dera soltar o círculo vicioso que sustento, que é a vida deles! Eles, ao misero toque morrem em pedaços, eu que devia morrer não morro. Criticam os meus gostos e dizem que os deles são melhores! Culpam-me de tudo e no final pedem-me ajuda! Usam-me como se fosse a água que eles bebem e, de repente, cospem-me para o chão, para o submundo do sujo e da mediocridade. Sou eu uma das pedras da calçada que os fazem andar, mas, de vez em quando faço-os cair.
Quem me dera que a minha ideia de tudo fosse realidade... Mas como? Se rasgam os meus sonhos em pedaços e os atiram para o rio. Olham para mim na rua e apontam e troçam e riem e eu morro...
Eu devia estar no topo do prédio e não na base! Mas deixem-me que vos digam que o que caí primeiro é sempre o topo, uma vez que a base está bem segura...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ai que medo

Ai que medo que eu tenho agora
De te perder a qualquer hora
De ficar de novo só...
Ai que medo
De me perder na ansiedade
De te quer...
Perder-me na saudade
Perder-te no escuro da solidão
Que medo que eu tenho
Mas em ti confio
Pois dei-te o meu coração...

Ai que medo, o mesmo medo de outrora
De te perder já, agora
E sinto que nunca mais poderei viver
Vou tentar congelar o pensamento
Antes que ele me cause lamento.
Ai que medo!
De não ser o que sonhaste
De ser um fardo para ti
É medo irracional
Quase loucura
Viver sem estar perto
De ti...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Pedro's Diaries (ultimas folhas)

13 de Abril de 2011
Os dias assim têm passado. Sempre na mesma fase. Olham-me na rua com olhares penetrantes e severos, como se tivesse cometido algum crime. Mas que crime?
Tentei ser feliz mas parece que nunca verei esse dia...
Noto que me desprezam ao máximo e depois... perguntam o que tenho. Também sinto que se eu cair ninguém irá dar pela queda, nem vão se importar que fique ali a morrer. Mas se for outra pessoa, uma cujos olhares são amistosos, talvez mandem vir um exército para proteger essa outra pessoa...
São estas as últimas páginas... Não há espaço para mais. A minha tosse piora, dia após dia, como se vomitasse a alma. Porque é que eu sinto que a maldade dos outros tem recompensa? Eu só pedi uma coisa, a morte! Já estou farto disto, farto de me sentir que não há saída, farto de me sentir que a minha vida vai acabar com o ''Todos viveram felizes para sempre''. Dizem-me todos que ele irá chegar, mas quando? No meu último dia de vida? Eu agora que pensava que tudo iria acabar bem...
Sinto-me preso. Durante a noite tranco-me no meu quarto com medo dos mesmos vultos que descrevi no principio de 2010. Irónico, não? Acabar como comecei... E todos me dizem para não desistir e até já tenho medo de publicar coisas no Luso Poemas ou no Facebook porque... parece que me repreendem com esta angústia que não consigo tirar.
Eu devia ter arriscado no inicio. Devia ter matado centenas de pessoas, ser rebelde como o destino! Assim talvez podia ter uma melhor sorte. Todos agora receberam o seu ''felizes para sempre'' e o meu? Talvez desisti dele por saber que se errar mais eu perco-o mais.
Quando eu chorei ou quando ainda choro, ninguém me segura! Dizem-me para deixar de fazer caras estranhas, parar de escrever coisas deprimentes. E tudo porque em público eu sorrio, rio-me, solto gargalhadas estridentes e irritantes, isto é o maior defeito de um actor... Mas por mais que esteja acessível a todos, embora me canse com facilidade e caio devagar, nunca ninguém virá por mim, porque, simplesmente eu pertenço ao mundo das ''Marianas'' que dão tudo e não têm nada.
As últimas linhas...
Vou morrer como nasci, sem darem importância. Só tenho as minhas histórias ridículas que contam histórias de amor, princesas escocesas que magicamente salvam o mundo e velhas que atingiram a imortalidade... Mas essas histórias mostram todas as minhas fases, assim como este diário que se extinguiu como uma chama branca que se perdeu em tantas outras pretas...

terça-feira, 5 de abril de 2011

Come What May (Secret love song)

Há uns dias vi o filme Moulin Rouge e fiquei bastante espantado com a história. Moulin Rouge foi em tempos o bordel mais frequentado de Paris. No filme, Satine, interpretada por Nicole Kidman e Christian, por Ewan McGregor vivem uma história de amor proibida, pois, para salvar Moulin Rouge tem que ''dormir'' e casar-se com o principal investidor do bordel, o duque. Eles, enquanto o duque não sabia de nada, andavam enrolados com o pretexto de estarem a ensaiar para uma peça que tinha sido por Christian e que iria ser representada no Moulin Rouge. Para provar o seu verdadeiro amor a Satine e para manter a relação longe dos ciumes, Christian escreve uma musica que é a ''musica secreta do amor'' chamada come what may...

Never knew I could feel like this,
Like I've never seen the sky before,
Want to vanish inside your kiss,
Everyday I love you more and more,

listen to my heart can you hear it sing,
Telling me to give you everything,
seasons may change winter to spring,
but i love you until the end of time,

Come what may,
Come what may,
I will love you,
until my dying day,

suddenly the world seems such a perfect place,
suddenly it moves with such a perfect grace,
suddenly my life doesnt seem such a waste,
now my arms are around you,

and theres no mountain too high no river too wide,
sing out this song and ill be there by your side,
storm clouds may gather and stars may collide,
but i love you,
until the end of time,

Come what may,
Come what may,
I will love you,
Until my dying day,

sábado, 2 de abril de 2011

Sintra

Ai, riachos que correm
Na negra calçada
Matagais que cortam
A respiração em imagens
Quem seria o culpado
De me dar negra sorte?
Sintra és meu pedido
Meu presságio de morte...

Meu amor, pensamento
Onde tudo começou.
Mas por pura ironia
Foi ali onde tudo acabou
Já não te pertenço
Nunca pertenci
Amei, foi um erro
Mas em Sintra rezo
Para apaixonar-me por ti...

Ao voltar, na partida
Encontrei o outro eu
Sentado, vi-o na esquina
Mirando-me entre o breu
E fitava-me deveras
E eu me apaixonava
Mas esse eu não me pertence
Não pertencerá mais!

As ruas sombrias
A estrada deserta
As heras sobem
Na tarde desperta
Ó Sintra
Mais ais
Juntaria a esses sete
Pintava mais pena
Nesse quadro romântico

Mas eu só te quero
Quando em ti estou!
Pois sei que agora
Vivo em demora
Para saber quem sou.

Ó Sintra modesta
Onde se ergueram mouros
Amo-te mais que tudo
És meu paraíso
E sou sortudo
Por saber que és meu lar!

domingo, 20 de março de 2011

Segue a voz

Segue a voz
Que te chama o coração
E foge desse mal
Sem razão
Quero que deixes de ser
Quem sempre foste por fora
Chegou a tua hora
E lembra-te de florescer
De crescer a aprender
Que a vida tem mais regras que motivos
Que não iremos ser se não o fizermos
E longe podermos ficar juntos
Mas livra-te do espelho
Que mata...
Ouve a voz
Do suspiro que me rodeia
Do amor que libertei e não esqueci
E leva-me as cartas que te escrevi
Para longe de mim
Para deixares tudo
O que há mim...
Segue a voz
Do momento de alegria
Do raio que te leva à solidão
Faz quebrar o misto de magia
E liberta esse teu coração!
Segue a voz...
Que te deixará mais forte
Mas segue-me essa voz...
E lembra-te dos conselhos que me deste
Para tornar o fogo mais agreste
Deixa a palidez dos negros olhos
E mata a vida das malditas regras
Mata!
E ouve a voz
Que existe entre nós!

quarta-feira, 16 de março de 2011

A Sombra (excerto do capítulo 21)

Não estava mais ali! A enigmática passagem para a fonte medieval tinha desaparecido! Talvez nunca tenha existido, mas assim como teria eu lá entrado uma segunda vez quando dei a minha imortalidade à Estrela? Estava farta! Farta daqueles 243 anos de vida perturbados! Farta daquela minha imensa sombra! Eu nunca existi! Eu certamente não devia chamar-me Rita Mendes! Aquela rapariga de 15 anos que tentou-se suicidar em 1775 nunca existira! Eu era uma farsa! Quem era eu quando bebi da fonte? Quem sou eu?

Quem sou eu?
Que entrega a vida à ilusão?
Quem sou eu?
Que nunca controlou o coração?
Quem eu sou?
Agora que a minha mente está fechada
Pois nunca existi!
Quem sou eu?
Quem é o meu reflexo para mim?
Quem sou eu?
Que pensou que poderia morrer?
Sem mais viver...
Sem mais sombras?
Quem sou eu?
Respondo:
Sou uma Sombra
Que não pertence a ninguém...

Corri para longe da montanha. Para longe das ruínas do Convento, esquecido na vegetação. Longe da casa velha de Isaura. Corri para longe da praia onde Eduardo me salvara da minha espécie de suicídio... Era isso! O suicídio! A Morte era a solução! Se eu não era mais imortal podia morrer!
Corri e corri, sem destino certo. Passei pela minha velha casa, pela casa de Rebeca e de Mariana, pela casa de Cecília, pela casa nova de João, pelo hotel Mendes. Eu estava farta daquele mundo organizado e melancólico, o mundo que eu pedi! Ao chegar à praça, olhei para o velho relógio. Marcavam-se as cinco horas! Cinco horas! Para onde poderia eu ir naquela maldita hora que me atormentou? A praia abandonada! A falésia!
Corri para lá sendo observada pela sociedade. Maldita sociedade! Passei pela igreja, onde perdi a minha vida e a vida de outros! Onde me casei e deixei morrer! Afastei aquele mundo e corri! Dei por mim já na praia, onde Estrela estava a um canto afastado a apanhar conchas. Corri até à falésia, era o fim! Estava pronta para o final! Pois por fim chegava o fim. Caminhei e vi à minha frente o sol, depois do sol vi por fim a mão de Deus. Adeus vida! Dei um passo em frente, para o ar, presa ainda à vida pelo meu medo de atirar-me completamente.
- Não faça isso Rita! -Gritava Estrela atrás de mim.
- Eu não aguento mais Estrela! Eu perdi o controlo! Já não sei mais quem sou! - Solucei. - Eu quero morrer! É só o que peço! Quero ir para sempre sem ter remorsos! Quero descansar numa ilha solitária convivendo só com a Morte...
- Rita... só eu apenas sei o que você é! E se tem dúvidas no que você é então venha comigo! Eu mostro-lhe...
- Eu não vou a lado nenhum... Ai! - A terra cedeu e caí... Julguei por fim morrer mas soube, quando acordei, passadas semanas no hospital, que tinha só desmaiado. Nunca tinha caído para o mar de espinhos da vida, tinha sido empurrada mais uma vez por Deus a assumir o meu próprio destino. Fui acompanhada por psicólogos e nem com eles consegui saber quem eu era, porque eu, embora contrariassem, continuava a ser a aberração, o cúmulo da longevidade, a vida ou a Morte. Aquela minha fonte de imortalidade deveria ter secado para sempre ou fora tudo ilusão minha? Na verdade só após aqueles séculos todos é que notei que a minha vida era longa e que a vivi num mundo de ilusões...