domingo, 30 de janeiro de 2011

Boatos de Um Velho

''Aqui fica o primeiro conto que me serviu de inspiração para a Princesa Escocesa''

Era um velho, pobre, cego e sem família.
As pessoas da aldeia acreditavam que ele era feiticeiro, outras, um puro conhecedor de histórias antigas e, a maioria, louco.
Todos os dias, recitava pelo menos um verso sobre os mais distantes países ou até mesmo sobre o seu próprio país, Portugal.
Ora, num dia de Primavera, quando o velho estava sentado junto à fonte. A Dona Alzira (a padeira lá da vila) foi encher o cântaro e foi então que o velho cego disse:
−O barco de quatro gigantescas chaminés vai pelo mar distante. Chega ao gelo, fura e é o naufrágio mais importante.
A padeira, assim que ouviu aquilo correu ao encontro do marido, esquecendo-se do cântaro.
Dois dias depois, veio a notícia aos montes da serra.
− Titanic naufragou. – Disse o jovem Quim.
− Quem naufragou? – Interrogou a velhota Judite.
− O Titanic é um barco, D. Judite. Tem quatro gigantescas chaminés e chocou contra o gelo, ou, como hoje dizem, um icebergue.
A D. Alzira relacionou o verso com a notícia daquele dia. A partir daí, várias pessoas da aldeia pensaram que o cego era mensageiro de Nossa Senhora de Fátima e, nesse mesmo dia, o velho pronunciou as seguintes palavras:
− O muro que estabelece a separação caiu.
De facto, este verso não adiantou de muito. Ninguém percebeu o seu significado. Porém, só quando eu envelheci e já no final do século é que entendi a quê se destinava. Havia sido destinado à queda do Muro de Berlim.
Outros dois dias passaram e o velho pronunciou outros dois versos:
− Em Lisboa, um palco de muitos espectáculos dará lucros e grandes cálculos.
Dois dias após esta ultima previsão a notícia veio à aldeia. Dizia-se que um grandioso teatro estaria a ser construído em Lisboa. Outro milagre do pobre velho!
Ora, quando o Verão chegou e os primeiros frutos ficaram maduros, o velho apanhou uma pneumonia e ficou de cama…
− Estou tão mal, mas já sei que não vou durar muito.
− Credo! Não diga uma coisa dessas! – Exclamou a D. Alzira benzendo-se.
− Sei que é hoje que parto. Sei que hoje irei ter com o Senhor.
− Agora o senhor precisa de descansar.
Mal ouviu estas palavras, o coração do velho começou a picar-lhe a alma e as suas últimas palavras foram:
− O barco naufragou, o elefante caiu e o monstro acordou… − Soltou um último suspiro e morreu.
Dias depois, descobriram que estes últimos três versos estavam relacionados com o avistamento de um monstro subaquático. O monstro do Loch Ness, que causara grande cepticismo e grande polémica. O avistamento era fundamentado em três simples teorias. A primeira delas afirmava que a imagem da criatura poderia ser de um barco (viking, pois foram encontrados destroços de vários barcos naquela região); um elefante (pois julgavam que este havia caído ao lago, formando o famoso monstro); ou o próprio monstro, que em cuja existência alguns acreditam…

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